terça-feira, 7 de agosto de 2018

O MITO DE LILITH E A OPRESSÃO FEMININA



O primeiro capítulo da Bíblia, conta a história de Adão e Eva... Mas segundo o Zohar (comentário rabínico dos textos sagrados), Eva não é a primeira mulher de Adão. Quando Deus criou o Adão, ele fê-lo macho e fêmea, depois cortou-o ao meio, chamou a esta nova metade Lilith e deu-a em casamento a Adão. Mas Lilith recusou, não queria ser oferecida a ele, tornar-se desigual, inferior, e fugiu para ir ter com o Diabo. Deus tomou uma costela de Adão e criou Eva, mulher submissa, dócil, inferior perante o homem. 


De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro, à noite, criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão". Esse ponto teria sido retirado da Bíblia pela Inquisição. O astrólogo assinala que ali começou a eterna divergência entre o masculino e o feminino, pois Lilith não se conformou com a submissão ao homem. 

O mito de Lilith pertence à grande tradição dos testemunhos orais que estão reunidos nos textos da sabedoria rabínica definida na versão Jeovística, que se coloca lado a lado, precedendo-a de alguns séculos, da versão bíblica dos sacerdotes. Sabemos que tais versões do Gênesis - e particularmente o mito do nascimento da mulher - são ricas de contradições e enigmas que se anulam. Nós deduzimos que a lenda de Lilith, primeira companheira de Adão, foi perdida ou removida durante a época de transposição da versão Jeovística para aquela sacerdotal, que logo após sofre as modificações dos pais da igreja. 

No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão. Ela brigou com Adão, reivindicando igualdade em relação a seu marido, deixando-o "fervendo de cólera". Lilith queria liberdade de agir, de escolher e decidir queria os mesmos direitos do homem, mas quando constatou que não poderia obter status igual, se rebelou e, decidida a não submeter-se a Adão e, a odiá-lo como igual, resolveu abandoná-lo. 

Segundo as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (século 6 ou 7). Todas as vezes que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada em ter de ficar por baixo de Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava: "Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual." Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. 

Lilith deve submeter-se a ele, pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido. Vendo que o companheiro não atendia seus apelos, que não lhe daria a condição de igualdade, Lilith se revolta, pronuncia nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão e vai embora; é o momento em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão soturna, tal como na ocasião em que Jeová-Deus fez vir ao mundo os demônios.


Adão sente a dor do abandono; entorpecido por um sono profundo, amedrontado pelas trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. Desperto, Adão procura por Lilith e não a encontra: “Procurei-a em meu leito, à noite, aquele que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei” (Cântico dos Cânticos III, 1). Lilith partiu rumo ao mar vermelho (Diz-se que quando Adão insistiu em ficar por cima durante as relações, Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho).

Lá onde habitam os demônios e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica. É um lugar maldito, o que prova que Lilith se afirmou como um demônio, e é o seu caráter demoníaco que leva a mulher a contrariar o homem e o questionar em seu poder. Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal do Outro Lado . Como conseqüência, deu à luz toda uma descendência demoníaca, conhecida como "Liliotes ou Linilins", na prodigiosa proporção de cem por dia.
Alguns escritos contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para compensar a tristeza de Adão, Deus resolveu criar Eva, moldada exatamente como as exigências da sociedade patriarcal. A mulher feita a partir de um fragmento de Adão. É o modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão. A mulher submissa e voltada ao lar. Assim, enquanto Lilith é força destrutiva (o Talmude diz que ela foi criada com imundície e lodo), Eva é construtiva e Mãe de toda Humanidade (ela foi criada da carne e do sangue de Adão).
Jehová-Deus tenta salvar a situação, primeiro ordenando-lhe que retorne e, depois, enviou ao seu encalço uma guarnição de três anjos, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, para tentar convencê-la; porém, uma vez mais e com grande fúria, ela se recusou a voltar. Lilith está irredutível e transformada. Ela desafiou o homem, profanou o nome do Pai e foi ter com as criaturas das trevas. Como poderia voltar ao seu esposo?
Os anjos ainda ameaçaram: "Se desobedeces e não voltas, será a morte para ti." Lilith , entretanto, em sua sapiência demoníaca, sabe que seu destino foi estabelecido pelo próprio Jeová-Deus. Ela está identificada com o lado demoníaco e não é mais a mulher de Adão. Acasalando-se com os diabos, Lilith traz ao mundo cem demônios por dia, os Lilim, que são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia.
Jeová-Deus, por seu lado, inicia uma incontrolável matança dessas criaturas, que, por vingança, são enfurecidas pela sua genitora. Está declarada a guerra ao Pai. Os homens, as crianças, os inválidos e os recém-casados, são as principais vítimas da vingança de Lilith. Ela cumpre a sua maligna sorte e não descansará assim tão cedo.
Uma outra versão, diz que foram os anjos que mataram os filhos que tivera com Adão. Tão rude golpe transformou-a, e ela tentou matar os filhos de Adão com sua segunda esposa, Eva.
Lilith Alegou ter poderes vampíricos sobre bebês, mas como os anjos a queriam impedir, fizeram-na prometer que, onde quer que visse seus nomes, ela não faria nenhum mal aos humanos.

Então, como não podia vencê-los, ela fez um trato com eles: concordou em ficar afastada de quaisquer bebês protegidos por um amuleto que tivesse o nome dos três anjos. Não obstante, esse ódio contra Adão e contra sua nova (e segunda) mulher, Eva, resultou, para Lilith, no desabafo da sua fúria sobre os filhos deles e de todas as gerações subseqüentes.
A partir daí, Lilith assume plenamente sua natureza de demônio feminino, voltando-se contra todos os homens, de acordo com o folclore assírio, babilônico e hebraico. E são inúmeras as descrições que falam do pavor de suas investidas. Conta-se, por exemplo, que Lilith surpreendia os homens durante o sono e os envolvia com toda sua fúria sexual, aprisionando-os em sua lasciva demoníaca, causando-lhes orgasmos demolidores. Ela montava-lhes sobre o peito e, sufocando-os (pois se vingava por ter sido obrigada a ficar "por baixo" na relação com Adão), conduzia a penetração abrasante. Aqueles que resistiam e não morriam ficavam exangues e acabavam adoecendo.
Por isso Lilith também está identificada com o tradicional vampiro. Seu destino era seduzir os homens, estrangular crianças e espalhar a morte.

Durante os primeiros séculos da era cristã, o mito de Lilith ficou bem estabelecido na comunidade judaica. Lilith aparece no Zohar, o livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico e no Talmude, o livro dos hebreus. No Zohar, Lilith era descrita como succubus, com emissões noturnas citadas como um sinal visível de sua presença.

Os espíritos malignos que empesteavam a humanidade eram, acreditava-se, o produto de tais uniões. No Zohar Hadasch (seção Utro, pág. 20), está escrito que Samael - o tentador - junto com sua mulher Lilith, tramou a sedução do primeiro casal humano. Não foi grande o trabalho que Lilith teve para corromper a virtude de Adão, por ela maculada com seu beijo; o belo arcanjo Samael fez o mesmo para desonrar Eva: E essa foi a causa da mortalidade humana.
O Talmude menciona que "Quando a serpente envolveu-se com Eva, atirou-lhe a mácula cuja infecção foi transmitida a todos os seus descendentes... (Shabbath, fol. 146, recto)". Em outras partes, o demônio masculino leva o nome de Leviatã, e o feminino chama-se Heva. Essa Heva, ou Eva, teria representado o papel da esposa de Adão no éden durante muito tempo, antes que o Senhor retirasse do flanco de Adão a verdadeira Eva (primitivamente chamada de Aixha, depois de Hecah ou Chavah).
Das relações entre Adão e a Heva-serpente, teriam nascido legiões de larvas, de súcubos e de espíritos semiconscientes (elementares). Os rabinos fazem de Leviatã uma espécie de ser andrógino infernal, cuja a encarnação macho (Samael) é a "serpente insinuante" e a encarnação fêmea (Lilith), é a "cobra tortuosa" . Segundo o Sepher Emmeck-Ameleh, esses dois seres serão aniquilados no fim dos tempos: "Nos tempos que virão o Altíssimo (bendito seja!) decapitará o ímpio Samael, pois está escrito (Is. XVII, 1): 'Nesse tempo Jeová com sua espada terrível visitará Leviatã, a serpente insinuante que é Samael e Leviatã, a cobra tortuosa que é Lilith' (fol. 130, col. 1, cap.XI).
Também segundo os rabinos, Lilith não é a única esposa de Samael; dão o nome de três outras: Aggarath, Nahemah e Mochlath. Mas das quatro demônias, só Lilith dividirá com o esposo a terrível punição, por tê-lo ajudado a seduzir Adão e Eva. Aggarath e Mochlath tem apenas um papel apagado, ao contrário do que acontece com as outras duas irmãs, Nahemah e Lilith.
A natureza foi madrasta para a mulher
(Sigmund Freud)


Quanta bobagem machista em torno de um mito feminino para denegrir, submeter, desvalorizar a mulher na história humana em geral.
Na Pré-história a mulher possuía o “poder biológico” e o homem o “poder cultural”. Daí o homem inveja esse poder biológico que a mulher tinha de gerar em seu ventre a vida.

No princípio era a Mãe Deusa da Terra, nos mitos antigos o mundo era criado por uma Deusa mãe sem auxílio de ninguém. Na segunda etapa, ele é criado por um casal criador. No terceiro, um macho ou toma o poder da Deusa ou o cria sobre o corpo da Deusa primordial. Na quarta etapa um Deus macho cria o mundo sozinho.Mais no decorrer do neolítico o homem começa a dominar a sua função biológica reprodutora, e, podendo controlá-la, pode controlar a sexualidade feminina.
Aparece então o casamento como o que conhecemos hoje, em que a mulher é PROPRIEDADE do homem e essa herança se transmite através das gerações de descendência masculina. Para poder arar a terra, os grupamentos humanos deixam de ser nômades . Dividem a terra e passam a ser sedentários. Começa m a se estabelecer as aldeias, depois as cidades, depois os estados no sentido antigo do termo, e com elas as sociedades patriarcais, ou seja, os portadores de valores e da sua transmissão são os homens.
Na Roma antiga o status de mulher foi extremamente degradado como era muito comum homossexualidade, a mulher fica restrita à reprodução. A sexualidade era rigidamente controlada pelos homens, o casamento era monogâmico e a mulher era obrigada a sair virgem da mão dos pais para as mãos do marido, qualquer ruptura desta norma poderia significar a morte, bem como assim, o adultério.
A mulher fica assim reduzida ao âmbito doméstico de reprodutora. Perde qualquer capacidade de decisão no domínio público, que fica inteiramente reservado ao homem o que torna a origem da dependência econômica da mulher, e se forma no decorrer das gerações, uma submissão psicológica que dura até hoje.

Dentre esse terror psicológico, físico e moral, a igreja teve um papel muito competente na história da submissão feminina.
Na idade média, as mulheres tinham o conhecimento transmitido de geração em geração como o de parteira, curandeiras, druídas (que mexiam com ervas) pois não existia desenvolvimento das ciências e formação acadêmica biológicas para tratamento das enfermidades. Mais tarde em meados da idade média elas vieram a representar uma ameaça, primeiro ao poder médico, com as universidades e segundo porquê elas formavam comunidades, como eram na totalidade muito pobres umas cuidavam das outras.

E para o resto da vida, nessa sociedade, conhecimento e prazer, emoção e inteligência são mais integrados na mulher do que no homem e por isso são perigosos e destabilizadores, em um sistema que repousa no controle e no poder inteiramente.
O fato de Eva ter sido gerada da costela de Adão nos remete a concluir que , o homem agora é quem gera a mulher, o que inferioriza o fato de parir, que antes, assegurava a grandeza. Grandeza esta agora, que pertence ao homem, que é quem trabalha e domina a natureza. Já não é mais o homem que inveja a mulher, agora é a mulher que inveja o homem e depende dele.
A mulher é vista como tentadora do homem, aquela que pertuba a sua relação com a sua transcendência e também aquela que conflitua a sua relação com os homens. Ela é ligada à natureza, à carne, ao sexo e ao prazer, domínios que tem que ser normatizados. Coloca-se o sexo como o pecado supremo e as mulheres se tornam frígidas porque sexo é coisa do diabo.
Era ela a responsável por qualquer e todo o mal que ocorressem naquela sociedade como morte do rebanho, doenças, catástrofes climáticas (seca) até impotência sexual do homem.

A religião católica e mais tarde, a protestante contribuiu decisivamente em varrer de toda a Europa, torturando e assassinando em massas as mulheres a quem eram julgadas como bruxas. Calcula-se que a inquisição assassinou 100 mil mulheres nas fogueiras sob o pretexto, entre outros de copularem com o demônio.

E não espanta que na própria Bíblia encontremos indícios dessa desigualdade entre homens e mulheres. Quando Deus criou o homem, Adão, ele o cria só apenas e depois criou a sua companheira Lilith, do barro, da sujeira. E depois, para o consolo de Adão, Deus criou Eva um ser submisso gerada da costela de Adão, indigna e imperfeita.
E por isso esse mito vergonhoso, disseminador de ódio contra a mulher, com objetivo déspota de arrancar, abstrair, castrar, manipular e violar os direitos femininos. Por causa da desobediência, por não querer ficar por baixo nas relações íntimas, ter que abrir-se e servir, por não ter seus direitos, como mulher respeitados, Lilith foi estereotipada como rebelada demoníaca e foi rotulada e usada como exemplo para toda e qualquer mulher, que se opuseram às ordens patriarcais e ela tem servido para colocar as mulheres em seu devido lugar.
Por se opor a obedecer a Adão, Lilith, passa a ser rotulada de concubina do Demônio, assassina de crianças, dama das trevas e outras baboseiras transloucadas e patológicas criadas pelas paranóias arcaicas, patriarcais religiosas que vem dominando o mundo por milênios e que infelizmente ainda há resquícios desta mentalidade doentia.
O que Lilith foi, sem dúvida, o primeiro arquétipo feminista.
Por causa dessa opressão feminina é que hoje a mulher liberta-se à procura do mundo público e à procura do prazer.

REFERÊNCIAS:
http://byfiles.storage.live.com/y1pMT9JDp6Oi7NwihBhNPgzoHLsHefvP052sks38nDO3lgKGRFkH4hQ3Q2Vex8lCqF-AEElCMDDtX0

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